Lá fora, no varal de meus planos, tremulam coloridos os panos.
É vento calmo, vento frio, que me arrasta para a vida... Levo meu copo de bebida barata, passo a mão numa coberta, sento na varanda e vejo ventar...
Frio, chuva e neblina. Uma cidade úmida, casarões antigos e arquitetura com inspirações européias, tudo feito de mistérios, que se revelam no anoitecer e acordam os fantasmas de cada um.
Se, ao ler o livro, notares qualquer semelhança com uma cidade real, não é mera coincidência, continue...
O livro Satolep, de Vitor Ramil, é uma realidade paralela numa cidade recriada. Imagine ver tudo através do reflexo de um espelho, pois é mais ou menos assim que o narrador vive em Satolep. Vendo de uma forma diferente daquilo que podemos chamar de real, desconstrói o concreto e o lógico.
Sem entrar no mérito da escrita, que, aliás, é de agradável degustação e bem estruturada, Satolep é uma obra artística. A arte é um dos componentes da neblina desta cidade. Nos seus diferentes ramos artísticos, as personagens reconstroem Satolep conforme as linhas e formas que veem e sentem.
O narrador vai, ao longo da história, deparando-se com questões e buscando desvendar enigmas que envolvem e tornam, indivíduos e cidade, uma coisa só. Em Satolep, a razão talvez não seja o principal instrumento para encontrar as respostas e as surpresas nos presenteiam até as últimas linhas do livro. Mas não vou estragá-las contando a história. Sugiro que aprecie você mesmo.
Nesse livro, Vitor Ramil torna claro o que chama de estética do frio. A beleza e as cores do inverno, que segundo ele, só é possível entender no extremo sul do Brasil, aqui no Rio Grande do Sul. Essa estética está presente, portanto, em Satolep.
Satolep é um livro verdadeiramente envolvente e curioso. Atrai-nos para dentro da história, nos torna um dos seres residentes dessa cidade. Talvez por isso não escrevi sobre ele tão logo acabei de ler. Precisava me afastar um pouco, para poder comentá-lo.
Algo que considero que tornou a leitura ainda mais saborosa foi o fato de minha amiga Lara e eu, lermos este livro simultaneamente. E diariamente trocarmos nossas impressões a respeito das leituras noturnas. Graças à ajuda da vida virtual, e seus comunicadores instantâneos, já que estávamos a alguns quilômetros de distância.
Ganhamos o livro na mesma ocasião, da mesma pessoa e lemos ao mesmo tempo. Valeu a parceria Lara! Quem sabe, um dia, repetimos a experiência da leitura simultânea. Mas como a Lara diria: se puder, leia Satolep no inverno, a estética do frio fará todo o sentido.
Boa leitura!
Eduardo diz:
vadio, ó vadio, por que és tão vadio?
Arion! diz:
sou vadio, tão vadio e mais vadio serei
porque só os vadios sentem o gosto bom do dia
e o perfume vagabundo da noite, que liberta os sentidos (da alma)
Como aqui é um Espaço Diverso e, principalmente, inverso, transcrevo cá a provocação dos instintos poetas (vagabundos) feita por Eduardo Ritter, um vagabundo nato e confesso, e eu, um cara que também tem lá os seus parafusos a menos e uma tendência à vida de sombra e água fresca. Como os senhores e senhoras podem ver, é isso que fizemos no MSN, às 20h e 40min de uma terça-feira, em momentos que o Eduardo deveria estar estudando e a minha pessoa, fazendo qualquer coisa mais útil. Ora! Quem sabe, um dia, escrevemos um livro, algo assim: Poemas Vagabundos... Eduardo diz: euheuhe. quem vai querer ler uma porcaria dessas? (dos mais incentivadores..auahauha)
Príncipes eu não sei, mas cavalos brancos existem aos montes.
Homens sempre procuraram cópias de suas mães, só que, claro, com mais peitos, mais bunda e dentro de vestidos sexys. Mulheres preferiam esperar pelo príncipe encantado, sobre um cavalo branco, disposto a lhes fazerem românticas serenatas (sem generalizar, por favor). Caminhos bem diferentes, não? Mas seriam felizes para sempre... Seriam.
Os tempos são outros, o “felizes para sempre” está cada vez mais distante, pouca oferta para muita demanda, etc, etc, etc. Agora, as mulheres esqueceram os almofadinhas, bons-moços, e querem lobos-maus, mas que venham com os olhos azuis do príncipe e cortem grama. Os homens? Bem... Sem muitas exigências, desde que lhe façam sexo oral e não tenham tantas dores de cabeça. Novamente, sem generalizações.
Falemos sobre sexo or... hã... digo, sobre príncipes encantados. Para começarmos, diga o nome de algum que você conhece... Nenhum? Ok, pode ser um que a sua avó, ou tia, conheça... Não? A vizinha da amiga da sua prima pode saber de algum? Nada? Vamos à outra tática: qual era o nome do príncipe encantado da Branca de Neve? Você não lembra? É eu também não! Assim como não sei nome do namorado da Rapunzel, da Cinderela, da Bela Adormecida e de tantas outras pobres donzelas infelizes, pelo menos até encontrarem seus verdadeiros amores, reconhecidos por um beijo (sem graça e sem língua, ao que parece). Se esses rapazes tinham nomes, não ficaram arquivados em minha memória, e nas suas provavelmente também não. Coitados, meros coadjuvantes.
Essas virgenzinhas, de contos de fadas, passam a histórias toda chorando rios de lágrimas a espera de um playboyzinho bem de vida, sensível e romântico, que lhes arrebatem para um mundo perfeito e lhes façam as mulheres mais felizes do mundo. Lindo, não é mesmo? No entanto, ao final de tudo, nem lembramos o nome desse sonho de consumo encantado. Chego a pensar que esse cara era o mesmo em todas as histórias. Se for, o rapaz era o maior pegador. Pulava de um conto para outro, desvirginava uma mocinha inocente aqui, beijava outra ali, partia o coração de umas dez... Nesse caso, nada mais conveniente do que permanecer no anonimato. Que bom que as moças não se conversavam, nem orkut tinham para ajudar (ou atrapalhar)!
Estou dizendo que o príncipe (sem nome) encantado é um cafajeste? Talvez. Mas uma boa pitada de cafajestice não faria mal, ou você agüentaria alguém babando mel no seu ouvido o resto da vida?
Com nome ou sem nome, ele só aparece no final da história! Que atrasado, não é? Nem se pode aproveitar muito, pois logo surge aquele último monossílabo que oculta todo o “felizes para sempre”. Então para todas, e todos, que esperam seus pares românticos ideais sugiro que beijem alguns sapos até que eles venham! Pelo menos se diverte mais, e numa dessas um sapinho pode até te encantar... E sua história acabaria mais ou menos assim: eles viveram felizes para sempre, fazendo sexo oral, com a grama do jardim sempre aparada. Fim!