terça-feira, outubro 05, 2010

Tristeza necessária

Às vezes peciso de um pouco de tristeza para me sentir melhor. É um mergulho no cinza, que posso pintar ao meu modo... Na mesma proporção que necessito da crise para abalar o meu mundo!

sexta-feira, outubro 01, 2010

Crônica das histórias secretas

Ela tinha um sonho, coisa pouca, quase nada, como costumava dizer. Uma menina franzina, frágil, quase sem graça, você diria, se a visse descer a rua, todas as manhãs. Sempre o mesmo caminho, o mesmo destino, a mesma hora. Levava consigo um sorriso de quem não desiste de acreditar que é possível e os olhos tristes de quem se acostumou a conformar-se.
Não foi difícil nos tornarmos amigos. Eu costumava ficar ali, sentado, olhando a paisagem em movimento de uma vida que agora, para mim, era somente lembranças. Certo dia ela chegou sentou-se e ficou a olhar fixamente para frente. Foi assim por outras tantas vezes, uma companhia silenciosa. Eu ensaiava um oi, quase saía, mas me parecia tão injusto que não fosse ela a primeira a falar. Esperei o tempo dela, por vários dias.
Até que então, certa vez, ela sorriu e mudou a direção do olhar, mas não me olhou e disse:
_Sua vida é tão inventada quanto a minha?
Sorri, tentando disfarçar que não tinha entendido a pergunta e disse:
_O que foi que você inventou?
_Não sei, já não consigo perceber a diferença. Mas você é meu amigo, não é? Achei que soubesse um pouco de mim.
Fiquei a pensar se ela precisava de ajuda, ou de amigo, ou ser ouvida. Ela levantou-se e disse:
_Até amanhã! Quem sabe você tenha as respostas.
Depois disso, minhas noites se tornaram uma insônia constante. Não conseguia parar de imaginar o que acontecia com ela, quem era e o que estava tentando me dizer. A noite se arrastava contrária à minha ansiedade em vê-la novamente, as perguntas se acumulavam, a curiosidade sobre a vida dela se misturava às lembranças da minha, aos fracassos que colecionei até aqui. Você espera que seja fácil, acha que vai vencer e fazer algo grande, mas a realidade oferece apenas um banco de praça e alguns instantes com alguém desconhecido.
No dia seguinte eu estava lá, mas ela não. E por vários dias eu esperei, mal controlando a minha curiosidade. Pouco mais de uma semana ela voltou, antes que pudesse se sentar, eu falei:
_Achei que retornaria no dia seguinte.
_Resolvi dar um pouco mais de tempo a você, para descobrir as respostas.
_Pensei que quem daria as respostas era você!
_Tudo que preciso dizer é que eu sonho às vezes, com coisas que não são minhas, com pessoas que não conheço. Eu sonhei com você, por isso vim te conhecer. Você consegue acreditar nisso?
E ela foi embora novamente. Só a vi mais um vez, quando ela sentou ao meu lado e repetiu que tinha um sonho, mas tinha também um segredo. Sorriu de novo aquele sorriso de quem acredita, olhou para o infinito e disse: quem sabe um dia eu te conto. Agora eu volto para esperá-la e olhar todos que passam, esperando uma história diferente.

sexta-feira, setembro 03, 2010

Teoria da chuva

Amei numa noite de chuva,
jurei o eterno, no silêncio escuro.
Mas a chuva cessou,
o coração secou...
sorri e fui embora...

sexta-feira, abril 23, 2010

DIA CINZA

Um dia cinza é um dia a se colorir...

segunda-feira, novembro 23, 2009

Teoria do vento


Lá fora, no varal de meus planos, tremulam coloridos os panos.
É vento calmo, vento frio, que me arrasta para a vida... Levo meu copo de bebida barata, passo a mão numa coberta, sento na varanda e vejo ventar...


quarta-feira, setembro 09, 2009

PEQUENOS SONHOS

Quero uma casa sem teto, para ver as estrelas
Uma bicicleta veloz, para alcançar as nuvens...
Quero lápis e papel para fazer rimas sem sentido
E em cada esquina, desenhar um sorriso...

segunda-feira, agosto 10, 2009

A estética do frio na cidade imaginária

Uma pretensiosa dica de leitura:

Frio, chuva e neblina. Uma cidade úmida, casarões antigos e arquitetura com inspirações européias, tudo feito de mistérios, que se revelam no anoitecer e acordam os fantasmas de cada um.
Se, ao ler o livro, notares qualquer semelhança com uma cidade real, não é mera coincidência, continue...
O livro Satolep, de Vitor Ramil, é uma realidade paralela numa cidade recriada. Imagine ver tudo através do reflexo de um espelho, pois é mais ou menos assim que o narrador vive em Satolep. Vendo de uma forma diferente daquilo que podemos chamar de real, desconstrói o concreto e o lógico.
Sem entrar no mérito da escrita, que, aliás, é de agradável degustação e bem estruturada, Satolep é uma obra artística. A arte é um dos componentes da neblina desta cidade. Nos seus diferentes ramos artísticos, as personagens reconstroem Satolep conforme as linhas e formas que veem e sentem.
O narrador vai, ao longo da história, deparando-se com questões e buscando desvendar enigmas que envolvem e tornam, indivíduos e cidade, uma coisa só. Em Satolep, a razão talvez não seja o principal instrumento para encontrar as respostas e as surpresas nos presenteiam até as últimas linhas do livro. Mas não vou estragá-las contando a história. Sugiro que aprecie você mesmo.
Nesse livro, Vitor Ramil torna claro o que chama de estética do frio. A beleza e as cores do inverno, que segundo ele, só é possível entender no extremo sul do Brasil, aqui no Rio Grande do Sul. Essa estética está presente, portanto, em Satolep.
Satolep é um livro verdadeiramente envolvente e curioso. Atrai-nos para dentro da história, nos torna um dos seres residentes dessa cidade. Talvez por isso não escrevi sobre ele tão logo acabei de ler. Precisava me afastar um pouco, para poder comentá-lo.
Algo que considero que tornou a leitura ainda mais saborosa foi o fato de minha amiga Lara e eu, lermos este livro simultaneamente. E diariamente trocarmos nossas impressões a respeito das leituras noturnas. Graças à ajuda da vida virtual, e seus comunicadores instantâneos, já que estávamos a alguns quilômetros de distância.
Ganhamos o livro na mesma ocasião, da mesma pessoa e lemos ao mesmo tempo. Valeu a parceria Lara! Quem sabe, um dia, repetimos a experiência da leitura simultânea. Mas como a Lara diria: se puder, leia Satolep no inverno, a estética do frio fará todo o sentido.
Boa leitura!