Marina acordou, espreguiçou-se sobre a cama e, ainda sonolenta, olhou em direção à janela, o sol invadia aquele quarto com tamanha determinação que chegava a lhe doer os olhos. Observou, por um instante, as cortinas de tecido leve que esvoaçavam com a brisa morna de verão, que entrava pela janela aberta.
Seu corpo parecia querer continuar naquela condição, mas sua cabeça já estava em atividade, organizando mentalmente o seu dia. Levantou-se vagarosamente, caminhou até a janela, contemplou o céu, que exibia um azul vibrante. O dia prometia-se leve e alegre, o corpo de Marina correspondia, mostrando-se tranquilamente acordado e receptivo aos ares daquela suave manhã.
O peito de Marina se enchia de um inexplicável bem-estar que lhe abriu os lábios num sorriso tímido e num suspiro breve, quando escaparam-lhe algumas palavras:
_Que dia para amar!
A frase saíra espontaneamente, sem raciocinar. Primeiro espantou-se. Depois pensou: “Amar? Quando foi a última vez que vivi um amor?” Não, ela não lembrava, será que nunca tivera vivido um?
Agora os pensamentos lhe povoavam a mente, uma dúvida havia se instalado diante de si. Nunca tivera um amor? Caminhou sem pressa, com os pensamentos longe dali. Deixou-se cair sobre a cama, fechou lentamente os olhos.
Marina se considerava uma dessas mulheres fortes, independentes. Nunca tinha sofrido por homem nenhum. Não entendia como se morria por um sentimento, tudo isso sempre esteve longe dela e de todo o seu mundo controlável.
Porém hoje, ela sentia necessitar desse sentimento desconhecido. Foi então que levantou-se de súbito, decidida e planejou:
_Vou encontrar o amor da minha vida. Assim, bem clichê, digna de uma novela mexicana. Ora! O amor não tem nada de original mesmo. Pensou ela, sorrindo quase cinicamente.
Em pé ao lado da cama, desfez o nós das alças da camisola comprida, cor de salmão, e a deixou cair, revelando o seu corpo nu. Em direção ao banho, foi com a sensação de felicidade desenhada na face, parecia estar flutuando, mas ainda sentia a maciez do carpete tocar os pés. Tudo encaminhava-se para uma ordem perfeita até chegar à porta do banheiro, quando paralisou imediatamente e por um segundo, sentiu todo o corpo tremer de susto ao ver aquele homem, uma toalha enrolada na cintura, fazendo a barba e mostrando uma barriga saliente, com seus quase quarenta anos. _Quem é ele? Pensou ainda bastante assustada.
_Bom dia amor! Dormiu bem? Por que está nua? As crianças podem acordar. Ele respondeu aos pensamentos de Marina.
_Não, não, sou casada? Murmurou com a mão na testa. _E tenho filhos?
Não reconhecia nada daquilo como sua vida. Por que estava ali? Quem era aquele homem? Quem era ela? Franzia a testa enquanto se perguntava.
_Querida, hoje não venho almoçar em casa, talvez tenha que viajar, resolver algumas pendências do escritório... Ele continuava a falar enquanto passava a lamina no rosto, aparando a barba. _Você está me ouvindo? Olhou para ela ao falar.
Então ela olhou fixamente para ele, respirou fundo... Voltou-se com corpo, caminhou apressadamente, jogou-se na cama de bruços, pôs o travesseiro sobre a cabeça e adormeceu.